15 de junho de 2009

Concurso de copos





“Encha os pulmões com ar, inspire profundamente e sopre” são as palavras que os agentes da PSP não param de repetir todas as noites. Estão a fazer testes de alcoolemia naquela tenda. “Mais saúde, menos riscos” é o que pode ler-se, escrito a letras garrafais vermelhas, no tolde amarelado que cobre aquele espaço no recinto do Enterro da Gata '09. Uma zona de passagem para a qual poucas olham qunado entram atinge o seu auge da meia-noite às 3 horas da manhã. Dentro e fora da tenda, à volta dos agentes da PSP ou das voluntárias de casaco vermelho ou apontando, às gargalhadas, para as guloseimas espalhadas numa prateleira por detrás do balcão, estão muitos jovens animados que apareceram subitamente. "Esta é a pior hora", ouve-se alguém dizer. E continua: "é por causa do fim dos concertos e como têm obrigatoriamente que passar por aqui para irem para as barracas de curso...". São jovens, na sua maioria, os que invadiram aquele pequeno espaço de repente. Uns, mais conscientes, vão dando uma gargalhadas ou escondem-se envergonhados pelo seu estado e logo se escapam pelo cantinho do tolde entreaberto. Os mais alterados pela bebida vão alternando entre risos e gritos ensurdecedores e brincadeiras inconsequentes. O passatempo preferido é, porém, fazer concursos, conseguindo deixar os agentes policiais e todos os profissionais, técnicos e voluntários que estão ali dentro, incrédulos. “Ei, o,4! Ainda posso ir beber mais uns copos”, pode ouvir-se da boca de um jovem rapaz que tinha acabado de “bufar ao balão”, como se dizem habitualmente. Logo a seguir, aproxima-se do balcão onde estão dois agentes da PSP mais um grupo de estudantes. Sopram à vez e riem e riem e riem... Entre palmadinhas de entusiasmo nos braços uns dos outros, vão competindo e, mais uma vez, rindo do número da taxa de álcool no sangue que acabam de ouvir. Fazem concursos entre si, competindo para descortinar quem bebeu mais e tem um valor menor. "Chiça, eu estou mesmo bem! Ainda consigo fazer o quatro e tudo!", diz um jovem bem alto para os amigos que estão prestes a sair da tenda. Por entre jogos e brincadeiras, nem se apercebem do trabalho ou das ideias que envolvem aquela tenda.



A actuação veste-se de amarelo ou vermelho


Do lado direito do balcão está um membro do projecto “Mais saúde,menos riscos”. De impermeável vermelho vestido e devidamente identificado, tem um bloco na mão onde podem ver-se várias grelhas. Vai escrevinhando e apontando, para fins estatísticos, os valores dos testes de alcoolemia que se vão fazendo todas as noites. O ritmo é alucinante dentro daquele tolde amarelado e contrasta com os abusos que se vão vendo por todo o recinto. Ao fundo da tenda, pode ver-se uma outra banca. Um balcão branco acolhe, normalmente, três voluntárias. Ali, vende-se algo bem diferente da vodka e safari das restantes barraquinhas devidamente organizadas pelo espaço de festividades académicas da Universidade do Minho. “Um cocktail, por favor”, ouve-se de longe a longe. O ritmo de vendas não é o mesmo das barracas onde também se vende álcool. “Um euro”, pede a voluntária de sorriso nos lábios. Atrás dela, um outro balcão branco. Twix, Mars, Kit Kat são algumas das doçarias que também vendem. No mesmo pequeno espaço estão os dois opostos, a alegria desenfreada dos bêbedos alegres e o cocktail de frutas, sempre pronto a ser servido com chantilly. Do lado esquerdo, também há os conscientes: aqueles que vão soprar ao balão para aferirem as suas capacidades para conduzir o carro estacionado atabalhoadamente à porta das instalações do estádio AXA, onde decorre o Enterro da Gata pelo segundo ano consecutivo. Depois das 3 horas já não é habitual a presença dos agentes da PSP naquela tenda. Quando saem, ouve-se frequentemente dizer, em tom de brincadeira, que “vão para as rotundas apanhar quem bufou ao balão”. Todavia, a tenda e o projecto não ficam nuos nem desprovidos de prevenção ou campanhas de sensibilização. Permanecem no interior membros da equipa e técnicos. Têm nos bolsos dos impermeáveis vermelhos uma série de testes descartáveis de alcoolemia, que vão distribuindo gratuitamente, sem deixar de explicar o seu devido funcionamento. Tentativa atrás de tentativa, por vezes surtem efeitos e dissuadem um ou outro de tentar coordenar os pés e as mãos ao volante. A maioria, porém, sorri… E brinca, não mudando os seus planos iniciais. Cá fora, andam pelo recinto os grupos de intervenção, ou “giros” como chamam os responsáveis pela iniciativa “Mais saúde, menos riscos”. Vão circulando regularmente com panfletos informativos na mão prontos a serem distribuídos junto com uma palavra amiga e conselheira. Uns fogem e outros ficam para rir enquanto alguns guardam educadamente o que lhes estendem para a mão e ouvem com seriedade.




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